Ringue de mães

Bicho complicado a tal da mulher. E nem pense que eu vou escrever esse texto me redimindo da culpa das baixarias inerentes ao nosso gênero, nem me venham com discursos super radicais dizendo que em vez de escrever uma atrocidade dessa eu deveria me unir e defender as mulheres e mães mesmo quando elas estão erradas (o ringue de mães começa agora?). Defendo o que eu acho certo, independente de gênero, cor, raça, preferência política ou time de futebol. E me reservo ao meu direito de opinar mesmo quando minha opinião é contrária àquela que você acha que é a única certa.

Ringue de mães

Se mulher já é chegada numa discussão acalorada, quando ela é mãe, sai de baixo. Defender a cria é um instinto animal, mas usar a maternidade e o instinto como desculpa para ofensas e radicalismos – me desculpe – é insano. E dessa união eu prefiro não fazer parte.

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Não me chame de ‘mãezinha’!

Flutuando por um grupo no Facebook, num daqueles posts que tem pra lá de 200 comentários, li bem por cima o que uma mãe estava falando: “… porque depois de esperar aquele tempo todo a enfermeira ainda teve a audácia de dizer ‘mãezinha, a senhora precisa se acalmar!’, eu precisei respirar fundo para não rodar a mão na cara dela”. É, esperar em consultório, em hospital, em fila de banco, até em fila de parque de diversões, cansa, estressa. Quando o motivo é referente ao nosso filho, o estresse se multiplica por 10 {acabei de lembrar que já dei escândalo num hospital por causa de um péssimo atendimento, mas isso fica para outro post}. Demorou uns 40 comentários para eu entender que a raiva toda daquela mãe não era apenas pela espera. Na verdade, ela meio que já esperava pelo chá de cadeira, o que a deixou arretada mesmo foi a enfermeira chamá-la de ‘mãezinha’. Depois de ler quarenta e poucos comentários de consternação coletiva, achei melhor sair do grupo.

Eu não vejo nada de mais em ser chamada de mãezinha. Antes de tentar atirar solvente nos meus olhos para fazer minha extensão de cílios cair, respire fundo. Eu entendo que muitas mulheres lutam contra valores deturpados que atribuem inferioridade e fragilidade à mulher, e eu sou completamente contra esse pensamento machista de que a mulher é inferior, só não acho que o termo ‘mãezinha’ me limite como mãe ou mulher. Acho a briga contra o pensamento machista coerente, a briga contra o termo não. Na verdade, das tantas vezes que ouvi ou que fui chamada de ‘mãezinha’ a sequência de frases era sempre envolvida de carinho. De enfermeiras querendo passar no olhar um pouco de conforto ao verem minha apreensão pela injeção que meu filho precisava levar; de equipe médica celebrando antecipadamente o momento em que meu filho chegaria aos meus braços; ou de desconhecidos atingidos pela aura de luz que uma mulher grávida parece emanar.

Ok, não gostar do termo é um direito seu, mas, por favor, não veja isso com uma coisa negativa. Nem tente dar um hadouken numa senhorinha na rua que não sabe o seu nome e a chamou de mãezinha porque estava prestes a elogiar o seu bebê.

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Você TEM que amamentar!

Amamentar é a coisa mais linda desse mundo. Saber que o seu próprio corpo produz o alimento necessário para saciar a fome do seu filho e passar para ele todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento é uma coisa mágica. Defendo a amamentação. Defendo as mulheres que amamentam os filhos até os 3, 4 anos, mesmo sob julgamento ou olhares maldosos. Defendo as mulheres que não se incomodam em mostrar o corpo em lugares públicos em benefício de suas crias. Defendo as mulheres que preferem esconder o seio na hora da amamentação. Defendo as mulheres que não amamentam.

Me espanta saber que mulheres que defendem tanto essa união entre mães sejam incapazes de compreender a dificuldade e a impossibilidade de outras em amamentar [falei sobre amamentação e suas dificuldades no post Mães (im)perfeitas]. Me espanta que, mesmo diante das dificuldades expostas, algumas ainda insistam que todas somos iguais e é fácil para todo mundo tanto quanto é para elas. Bico plano, bico invertido, falta de leite, tentativas frustradas, instabilidade emocional, nada disso é argumento convincente para mães que jorram leite. Ao passo que o incentivo é determinante para o sucesso das mães que tem dificuldades e após algumas (ou várias) tentativas conseguem, falta empatia e sensibilidade para reconhecer quando simplesmente não dá. 

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Deixa que eu escolho por você.

Dê dinheiro, mas não dê liberdade. Assim dizia um velho amigo. Interpretação de texto virou um dos maiores problemas do século, especialmente quando tem gente interpretando a frase “preciso de uma sugestão” como “você tem passe livre para se meter na minha vida e decidir que escolhas eu devo fazer”. 

“Comentei com uma conhecida que estava na dúvida se iria deixar minha filha na escola no ano seguinte porque ela havia tido um desentendimento com uma professora. Essa conhecida tomou a liberdade de nos expor e contar uma versão completamente diferente do que eu tinha falado para a diretora do colégio. Ficou um clima super chato para mim e para a minha filha com a professora e com a diretora. Minha filha acabou pedindo que eu a mudasse de colégio”, conta Tereza*, mãe de uma adolescente de 13 anos.

Comunicar é saber medir as palavras e delimitar até onde você quer que o outro saiba e interfira. “É complicado manter uma conversa com algumas mães que tem filhos da mesma idade do seu”, conta a nutricionista Raquel Teixeira ao complementar que há sempre aquelas que precisam comparar tudo em relação aos filhos e querem convencê-la de que você precisa fazer exatamente igual. “Tudo dela e do filho é melhor. A gravidez foi mais tranquila; o colégio do filho dela é melhor que o do meu; o desenvolvimento da criança é mais satisfatório; as festas da escola do filho dela são mais pomposas. Se eu digo que meu filho já sabe duas palavrinhas em inglês, o dela já é fluente no idioma e ainda forma frases em mandarim”, diverte-se. “E sempre que ela discursa sobre algum feito da família exemplar e genial que ela tem, ela diz que eu deveria fazer o mesmo”.

Esses foram apenas alguns exemplos do maravilhoso mundo competitivo e tempestuoso das mães. Mas calma, nem tudo é tão infernal quanto parece. Quando não estamos na TPM e nem há ninguém pisando nos nossos calos, nós – mães – somos as pessoais mais calorosos, amigas e amorosas desse mundo. 

E se discordar leva porrada! Brincadeira…

* Nome modificado a pedido da entrevistada | Crédito das imagens: Shutterstock

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4 comments Add yours
  1. Aleluia, alguém que não se acha menos mãe por ser chamada de MÃEZINHA!
    Eu sempre me perguntei o pq de tanto ódio por causa disso! Eu sempre achei uma forma carinhosa e já saí de grupos tb por conta dessa forma radical de lidar com certas coisas!
    A amamentação no meu caso está sendo ‘dificil’ pq as pessoas qrem me forçar a desmamar o Arthur! Ok, eu tentei já 2 vezes o desmame mas não consegui, doeu mt, ele chorou demais, N fatores. E qd algumas pessoas souberam q eu não segui com o desmame só faltaram me xingar! Não sei que diferença faz na vida delas, mas…
    Fora tds as outras ‘polêmicas’: PN, PC, PH…trabalhar fora x ficar em casa, deixar aos cuidados em casa x creche…
    Às vezes é tanta briga por nada!
    Mas tb tem mt coisa boa nesse mundo de mãe hehehehehe
    Eu participo no whats de 3 grupos de mãe!
    Me salvou taaaaaaaaantas vezes, apesar de uns ‘figths’ vez ou outra
    heheheheheehheeh

    Amei o post!
    Bjoooooooooo

    1. Eu desisti desses grupos, pq sempre rola briga pelos motivos mais idiotas. Tb já me tiraram muitas dúvidas, mas só entro qdo é algo bem pontual: pergunto, vejo a resposta e pronto, rsrsrs
      Ah, e q bom encontrar uma “mãezinha” q tb não se importa com o termo. <3
      Bjossss

  2. Eu gostei bastante do texto. Também não entendo porque algumas mães ficam julgando outras.
    Só não entendi o começo “Nem me venham com discursos feministas dizendo que em vez de escrever uma atrocidade dessa eu deveria me unir e defender as mulheres e mães mesmo quando elas estão erradas”.
    Eu sou feminista e acho que você não sabe o que isso significa. Feminismo = luta por igualdade entre os sexos. Só. Não é “defenda todas as mulheres, o que elas fazem e falam”. Isso não tem nada haver. Muitas mulheres agem errado em muitas coisas, e isso deveria ser óbvio.
    Também não concordo na parte “E se você acha que é um absurdo eu falar que mulher é desunida e adora uma baixaria, pergunta pro teu marido, boy magia, ficante, pai ou irmão se eles pegam briga em grupos do Facebook porque alguém deu a entender que ele é ‘menos pai’ ou porque alguém disse que o look que ele usou ontem não ornou.
    Se mulher já é chegada numa discussão acalorada, quando ela é mãe, sai de baixo”.
    Eu sou mulher e não sou nenhum um pouco histérica, fofoqueira ou barraqueira como você deu a entender que todas as mulheres do mundo são. Isso é generalização. Fale por si mesma e não por seu gênero.
    Não acho que “mãezinha” seja um xingamento, tampouco um elogio. Depende da situação. Minha irmã tem uma filha de três anos, uma vez quando estávamos conversando numa lanchonete e um grupo de homens conversava sobre política na mesa ao lado. Eles falaram “mulheres devem ganhar mesmo sim, tá vendo, essas mãezinhas só ficam em casa sem fazer nada e passeando quando o homem tem que trabalhar o dia todo”. Isso foi um insulto. Por isso não me sinto obrigada a gostar nem desgostar desse termo.

    1. Obrigada pela aula e pela opinião. Só fazendo uma troca de conhecimento, o correto é “nada a ver”.
      E quanto ao exemplo da baixaria, eu não dei a entender que todas as mulheres são barraqueiras, foi uma generalização, corresponde a uma parte, mas sempre há exceções. Bjosss

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