Ícone do site Oxente Menina por Ana Lu Fragoso

Pequenas misses ou pequenos monstros?

Peruca alta cheia de laquê, maquiagem carregada, sorriso amarelo e congelado, roupa volumosa e cheia de plumas e paetês, e, para fechar, uma piscadinha daquelas que fecha o olho e entorta a boca. Eu desfilando na Sapucaí e paquerando com um Big Brother que está no camarote? Não, nada disso! Posso até estar sendo cruel na descrição dos trejeitos, mas crueldade mesmo é assistir ao que se passa no programa “Pequenas Misses”.

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Pequenas Misses: exposição extrema

De início chega a ser engraçado ver aquelas mães pulando feito loucas para orientar a filha que está no palco: “Dá uma piscadinha”, “Acena para o juiz”, “Sopra um beijo”, “Rebola”. Oi? Como assim, gente? Estamos falando de meninas de 5, 6, 7 anos, expostas de forma ridícula, vestidas de forma ridícula, em algo que é, supostamente, um concurso de beleza.

Adultização da infância

Me pergunto se a beleza de uma criança é determinada através de bronzeamento artificial, unhas postiças, perucas, e – pasmem! – dentes postiços. A meu ver, crianças não deveriam ser julgadas de forma nenhuma, mas vamos lá, se o concurso é de beleza, creio que o mais sensato seria avaliá-las pela beleza natural, e não tentando transformá-las em adultos.

A pequena Eden Wood em um momento descontraído e sem maquiagem (esquerda) e produzida para uma apresentação.
Expectativas e pressão nas crianças

Fico imaginando que tipo de motivação leva uma mãe a inscrever uma criança em um Beauty Pageant {é o nome que se dá a esses concursos nos EUA}: realização pessoal? Dinheiro? Fama? A verdade é que participar desses eventos de pequenas misses não é barato, são gastos com viagens, bronzeamento artificial, maquiador, cabeleireiro, duas ou três roupas diferentes em cada concurso… e não há nenhuma garantia que a criança vá levar algum prêmio, seja em dinheiro ou em produtos.

Autoestima em jogo

E o que dizer do comportamento repugnante de alguns pais? A mãe de uma linda criança teve audácia de revelar na TV que a filha dela era bonitinha, mas que só ficava realmente linda quando estava produzida para algum concurso. Que tipo de autoestima essa criança terá quando entrar na adolescência? Seus valores serão baseados no caráter ou  na beleza exterior? Uma outra mãe brigou diante das câmeras com a filha de 2 anos porque a garotinha, depois de horas de espera, ficou com sono e começou a chorar porque queria sua chupeta. A mãe esperava que esse bebê compreendesse que estavam ali pelo prêmio em dinheiro? A sensatez parece não fazer parte das regras estabelecidas nos concursos.

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É triste ver a infância dessas crianças sendo roubada de forma tão descarada. Torço para que os pais abram os olhos enquanto há tempo, antes desses pequenos virarem adolescentes e adultos frustrados, com baixa autoestima e com uma traumática aversão à vaidade.

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