Uma echarpe rosa, várias viagens: reflexão sobre ter peças não descartáveis

Tive um déjá vu quando estava escolhendo umas fotos da nossa última viagem. Vendo as fotos que tirei no Jardim Botânico, a impressão que tive foi a de já ter visto a mesma imagem antes, mas se eu nunca tinha estado em Curitiba, impossível ter uma foto repetida! Foi aí que a ficha caiu: além de ter eu como denominador comum nas fotos, eu estava usando a mesma echarpe que usei em viagens anteriores. 

Basta ser um lugar frio para ela estar junto comigo. Ganhei essa echarpe há pouco mais de 10 anos, antes de partir para Paris em lua de mel em 2008. Depois disso, o acessório embarcou na mala para o Peru e Bolívia em 2009, Gramado em 2015 e Curitiba em 2018. Entre uma viagem e outra ela ficou guardadinha na gaveta esperando a oportunidade seguinte. “Tá na hora de comprar um lenço novo, né?” foi o pensamento que me ocorreu quando percebi a repetição de look nas fotos…

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echarpe rosa
Peru, em 2009.
echarpe rosa gramado
Gramado, em 2015.

Um pensamento muito fútil, diga-se de passagem, até porque tenho várias outras echarpes guardadas que também só saem da toca quando viajo, mas foi esse pensamento que me fez parar para refletir e escrever esse post. Eu que tanto admiro Kate Middleton por repetir roupas em eventos importantes (a Duquesa é sempre um bom exemplo!), por que estou me preocupando com uma echarpe rosa repetida nas minhas fotos de viagem? Se, apesar do tempo, ela não está velha e nem desgastada, se ela é macia e aquece bem, se é um dos acessórios que eu mais gosto, por que eu deixaria de usá-la? Esses questionamento me levaram à reflexão de que no fim das contas estamos – sim! – lá no fundo, sempre nos preocupando com a opinião alheia. Inconscientemente estamos sempre tentando agradar aos outros em busca de um elogio para amaciar nosso ego, em vez de buscar o caminho mais curto e usar ou fazer o que agrada a nós mesmos. E daí que alguém comentou “Eu já vi esse lenço antes!” em uma foto do Instagram? E daí que alguém está pensando “Nossa, ela só tem essa echarpe rosa!”? E daí?

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echarpe rosa curitiba
Curitiba, em maio deste ano. Sem brinco na orelha direita, porque tinha caído e mais tarde encontrei ele preso na echarpe!

Chega a ser engraçado eu estar postando sobre isso, porque sou totalmente desapegada de roupas e costumo fazer piada de uma calça jeans rasgada e uma sapatilha de tachinhas que são praticamente um uniforme diário. Talvez não tenha sido exatamente a echarpe rosa a me fazer refletir sobre o assunto, talvez tenha sido apenas um desejo (desnecessário, mas ainda assim um desejo) de justificar minhas escolhas e só a partir daí perceber que tudo bem – na verdade tudo ótimo – em ter peças que não são descartáveis. Em ter zelo. Em repetir peças só porque gosto e estou a fim.

E sabe o que mais? É bem provável que meu lindo e confortável lenço apareça em fotos futuras. Estou torcendo para que isso aconteça, porque se a echarpe rosa aparecer no seu feed do Instagram ou do Facebook, significa que estou viajando para um lugar frio e maravilhoso. E no fim das contas, as experiências de viagem para mim significam muito mais do que as roupas que aparecem nas minhas fotos. 

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5 comments Add yours
  1. É verdade… tenho refletido muito sobre essa coisa de estarmos sempre preocupados com a opinião alheia ou com a imagem que “precisamos” mostrar nas redes sociais.. eu amo fotos, adoro o instagram… mas até que ponto é saudável essa preocupação em mostrar tudo o que estamos fazendo ao invés de simplesmente vivermos os momentos com mais entrega e presença? e sem falar que não basta postar as coisas, ainda ficamos preocupados com o retorno, as curtidas, as visualizações, os comentários… como se dependêssemos dessa aprovação alheia para nos sentirmos interessantes, importantes ou para acreditarmos no valor daquilo que estamos fazendo… é muito estranha essa sensação.
    Bom, depois dessa minha reflexão aí, o que tenho a dizer é que sua echarpe rosa é lindíssima, inclusive eu acho um arraso essa tua foto do perfil do blog com ela. Por mim pode usá-la à vontade! :D Bjinhos!

  2. Um dia conheci um pessoal que morava numa república de cunho anarquista. Eles tinham apenas 1 guarda-roupa onde eles guardavam as roupas que TODOS usavam. Tudo pertencia a todos e nada era especificamente de ninguém. A pessoa ia ao guarda-roupa, escolhia o que queria usar e depois de usar, lavava e devolvia ao guarda roupa. Eu amei esse sistema desapegado. Meu sonho é ser assim um dia.

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